Transferência do Aterro de Gramacho expõe baixo índice de reciclagem no município do Rio de Janeiro
A transferência do Aterro de Gramacho para a central de tratamento no município de Seropédica expõe, além da vulnerabilidade social dos catadores, a necessidade urgente de ampliação do sistema de coleta seletiva no município do Rio de Janeiro, com a devida inclusão destes trabalhadores, prevista em lei federal.Atualmente, somente 2% do lixo gerado no Rio de Janeiro é reciclado.
Cerca de 2.500 catadores sobrevivem do lixo levado para Gramacho, de acordo com a ONG Recicloteca. Deste total, a Secretaria Estadual do Ambiente estima que apenas 15% estejam organizados em cooperativas. Os demais, que estão completamente desorganizados, demandam urgente capacitação e apoio de logística para que não se crie uma verdadeira crise social.
O aterro de Gramacho recebe em média 17 mil toneladas de resíduos sólidos por dia, sendo 9 mil toneladas oriundas do município do Rio de Janeiro e ainda de quatro outros municípios da região metropolitana.
As impressionantes imagens do aterro de Gramacho, documentadas no filme Lixo Extraordinário, indicado ao Oscar 2011, expõe, além da precariedade social brasileira, a má gestão dos resíduos recicláveis que predomina na maioria dos municípios brasileiros, cujos índices de serviços de coleta seletiva são baixíssimos e mesmo inexistentes.
Para exemplificar, segundo o presidente da Associação de Catadores do Aterro de Gramacho, Sebastião Santos, a cidade do Rio de Janeiro recicla apenas 2% de todo o resíduo nela gerado. Este percentual ínfimo é resultante, entre outros, da má gestão pública, da não responsabilização legal dos grandes geradores, como por exemplo, a indústria do PET (politereftalato de etileno) e do plástico, que pela lei federal não está obrigada a implantar logística reversa de seus produtos, e mesmo, pela indiferença do consumidor quanto à importância da coleta seletiva.
Sebastião Santos ressalta também que a lei que define a política nacional de resíduos sólidos determina que os governos municipais priorizem a contratação de organizações de catadores, para a realização de serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos. Assim, os catadores de Gramacho poderiam trabalhar na separação dos resíduos gerados na cidade do Rio de Janeiro.
De acordo com Glória dos Santos, diretora da Associação dos Catadores de Jardim Gramacho, o setor público tem que se sensibilizar com a urgência da questão. Sua associação, por exemplo, demanda quatro novos galpões, além de equipamentos como esteiras, prensas e ainda caminhões, afim de absorver o pessoal que terá de buscar material reciclável em condomínios e indústrias.
Os catadores de Gramacho reivindicam também que a prefeitura do Rio de Janeiro invista em projetos de conscientização para a importância da separação do lixo reciclável e remunere as cooperativas que coletarem estes materiais nos condomínios da cidade, como prestadores de serviços ambientais.